sábado, 29 de dezembro de 2007

Mauro Fuke - A trimendisionalidade do virtual



Recentemente na busca de um refugio viajamos ao sul do país. Eu e Marcus. Além do descanso, da cor azul e rosa do céu, da Lagoa dos Patos, e do vento a cantar descobrimos alguns esconderijos e nos deparamos com gente que gosta de viver neles. Para ter acesso a tal paraíso, com posse de um mapa, percorremos uma longa estrada, reta e interminável, caminho para o Uruguai. Nosso ponto final foi na cidade de Eldorado do Sul, é de surpreender o tesouro que encontramos escondido por lá.

Entre terra de chão batido, avistamos a casa contemporânea cujo telhado em forma de arco rompe com o ar bucólico de cidade do interior. Tratava-se da residência e atelier dos Artistas Plásticos gaúchos Mauro Fuke e Lia Mena Barreto. Ele mesmo, Mauro Fuke, que teve mostra individual no Instituto Tomie Ohtake no ano de 2003. Cujos objetos em madeira nos prenderam muita atenção. Vocês devem lembrar dos objetos modulares que se expandiam conforme o observador os manejava, e dos objetos surrealistas que surgiam rostos - corpos de sofrimento, e também dos que considero mais belos, os objetos arredondados feitos de repetições em progressão geométrica e aritmética, realmente para o espectador eram pura contemplação.



foto: reprodução de catálogo do artista

Mauro Fuke é formado em desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e é do desenho virtual que saem estas belíssimas esculturas. O processo do trabalho é dividido em etapas. Primeiramente ele desenha no computador uma forma, nela é aplicada matemática, e através desta relação passa-se a reproduzir em escala virtual as peças que mais tarde esculpidas se tornarão obra de arte. Esta busca quase que obsessiva da perfeição é a característica principal de suas obras, e nisto ele é muito bem sucedido, pois o acabamento de tais objetos é impecável em cada milímetro. Talvez, por isso, o tenham convidado a fazer inúmeras obras no Estado do Rio Grande do Sul.

Encontramos obras belíssimas espalhadas pela cidade de Porto Alegre dentre elas a do Aeroporto Salgado Filho. Mas foi em Rio Grande uma cidade portuária, que encontramos uma obra suma importância a todos descendentes nipo-brasileiros. Um monumento que representa o Cinqüentenário da Imigração Japonesa no Estado do Rio Grande do Sul.

Agora, Mauro está iniciando uma nova série de objetos. Os novos objetos sugerem uma linha mais orgânica, na questão formal as obras estão menos geométricas, mas continuam seguindo um tipo de progressão matemática. A nova peça, que nos apresentou em seu atelier, ainda sem título, possui uma estrutura que revela linhas sinuosas, que se expandem do centro da escultura para fora. A forma lembrou-me de medusas marinhas. Senti nesta nova peça uma relação diferente com a materialidade escultórica, esta característica nova rompeu a impressão de introspecção deixada pela última série do artista. Vejo na nova série a busca de expansão. Num sentido amplo. È uma série mais livre, e tão rica quanto a anterior não perdendo em nada nas questões do acabamento.


Ainda no atelier conversamos muito e nos deparamos com um local aconchegante e organizado, além de um bate-papo agradável.Um verdadeiro tesouro. Conhecemos assim um pouco mais a pessoa a qual admirávamos pelas belas peças de arte. Um artista muito sensível, pai de família, que gosta de nas horas vagas chamar os amigos e cozinhar. Celebrando com eles em casa, entre peças de arte, a alegria de viver fazendo o que se gosta.

Fernanda Aiub Branchelli - Artista Plástica graduada em Escultura e História, Teoria e Crítica de Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul –UFRGS

(data: 11/09/2007)

http://www.fernandabranchelli.blogspot.com/

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